Quais os impactos já percebidos?

A agricultura é fortemente afetada pelo clima, e as mudanças climáticas podem impactar negativamente a produção agrícola de várias formas, incluindo eventos climáticos extremos, temperaturas e pragas. O aquecimento global, causado pela atividade humana, já provocou aumento na temperatura global de 1,1°C e pode afetar a segurança alimentar no Brasil, mudando a geografia da produção agrícola, além de resultar em uma chance aumentada de eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor e secas em escala global. Para especialistas, isso pode afetar negativamente a produção de alimentos no Brasil, incluindo a redução da produtividade e dificuldades no planejamento. Como um ciclo, o aumento das temperaturas gera secas mais intensas e tempestades que podem causar quebra de safras, causando a diminuição da produção e o aumento do preço de alimentos. Além disso, o ar mais quente pode resultar na produção de cereais menos nutritivos.

Um relatório recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) concluiu que a temperatura global pode aumentar de 1,5°C a 2°C ainda neste século, a menos que haja uma forte redução nas emissões de gases de efeito estufa. Os efeitos já estão ocorrendo, e, em certas regiões do mundo, a produção agrícola está diminuindo e afetando cerca de 166 milhões de pessoas, principalmente na África e na América Central. Órgãos internacionais de proteção contra mudanças climáticas, tais como o IPCC, emitiram recomendações para que a América Central e a do Sul ampliem suas ações de adaptação às mudanças climáticas e incluam medidas como manejo do solo e da água, agricultura inteligente, sistemas de alerta precoce e melhor manejo de pastagens e pecuária. Além disso, os cientistas destacam a importância do conhecimento indígena para reduzir os impactos das mudanças climáticas e proteger as comunidades dependentes de recursos.

Ainda de acordo com o relatório do IPCC, a mudança climática terá impactos negativos na pesca, na aquicultura e na produção agrícola, especialmente na África Subsaariana, na América Central e na do Sul, no Sul e no Sudeste Asiático, resultando em uma redução na segurança alimentar. Na África Subsaariana, a produção de milho e trigo já caiu 5,8% e 2,3%, respectivamente.

Curiosamente, os sistemas alimentares podem ser tanto uma ameaça quanto uma solução para lidar com as mudanças climáticas. A agropecuária, por exemplo, é a principal causa de desmatamento no Brasil e em outras partes do mundo, o que a torna uma fonte importante de emissões de gases de efeito estufa: um dos grandes vilões da diminuição da produção de alimentos. Em todo o mundo, 24% das emissões de gases de efeito estufa são resultado de ações humanas, mas, no Brasil, esse número sobe para 73%. Além disso, a produção de carne bovina é responsável por altas emissões de metano, um gás 20 vezes mais poderoso que o CO2 para o aquecimento global.

É preciso destacar como a agropecuária vai além dos impactos climáticos, trazendo prejuízos também para a saúde das populações, como a pandemia causada pelo consumo excessivo de carne vermelha, alimentos contaminados com agrotóxicos e ultraprocessados. O desmatamento e a perda de ecossistemas nativos também aumentam as doenças infecciosas, incluindo a pandemia de covid-19.

Outro fator importante é que as mudanças climáticas têm um impacto negativo não só na produção agrícola, mas também na pesca comercial e de subsistência, ameaçando a segurança alimentar, a nutrição e a subsistência de comunidades em muitas regiões, incluindo países de baixa renda e comunidades indígenas. A mudança climática está fazendo com que o rendimento máximo sustentável de várias populações de peixes selvagens diminua, o que tem impacto profundo em algumas áreas do mundo. A perda de acesso a fontes marinhas de proteínas afeta a nutrição das comunidades dependentes da subsistência, especialmente no Pacífico Norte, Ártico, África Ocidental e Pequenas Ilhas.

Os riscos e os impactos das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos são anunciados pelos últimos três relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU). É necessária uma atuação governamental rápida, pois esses efeitos serão sentidos principalmente pelos mais pobres e vulneráveis.

Alguns dos eventos climáticos extremos e como atuam

Eventos climáticos, como inundações, ondas de calor, secas e aumento de concentrações de ozônio ao nível do solo, têm causado graves perdas locais na produção agrícola em muitas regiões. A variabilidade climática e extrema afetam negativamente a produção e a qualidade de alimentos, exacerbando a escassez sazonal. Veja com mais detalhes como alguns desses fenômenos impactam a produção:

Ondas de calor: temperaturas diárias máximas acima de 32°C, que afetam as fases do ciclo de crescimento das plantas e podem resultar em perda de produção. É previsto que a produtividade agrícola do Brasil sofra um declínio acentuado até o ano 2050 devido ao calor excessivo.

Veranicos: períodos de seca acompanhados por calor e falta de umidade, que podem requerer mais irrigação e prejudicar a produção de culturas, como a soja na região Sul.

Chuvas e ventos intensos: o aumento da frequência de chuvas fortes e tempestades pode causar problemas de inundação e dificultar a mecanização agrícola na região Sul. Culturas como cana-de-açúcar, trigo e arroz também podem ser afetadas por ventos fortes e chuva intensa, o que pode dificultar a pulverização de defensivos agrícolas.

Desafios para os governos

A crise climática e sua interação com a fome, a desnutrição e a obesidade são uma grande ameaça para a humanidade, um processo que pode ser reconhecido como uma síndrome global. As mudanças climáticas, juntamente aos eventos extremos e às políticas precárias, contribuem para o aumento da pobreza e da fome, enquanto o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados pode impactar negativamente o sistema de saúde. Um dos desafios para os governos é unir questões de desenvolvimento econômico e impacto ambiental na produção e no consumo de alimentos. Para alcançarmos um futuro climático seguro, é necessário um esforço significativo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Só assim será possível garantir o acesso à alimentação adequada para todos, um direito fundamental.